toronto street slang: pop

jesus + echo and the bunnymen + garage + surf.

odonis odonis, hollandaze, fat cat 2011

2011

prometeu ser um ano extraordinário, mas foi perdendo gás com o avançar dos meses e o rarear de discos entusiamantes. voltei vezes sem conta ao passado. pela descoberta! não me rendo, ainda, aos braços da nostalgia.
hoje, a música pop é evolução, é uma esponja que absorve sons e conceitos de outro tipos de música, de sons existentes ou inventados, mas que vive fundamentalmente do seu próprio passado.
alguns discos de que gostei, editados em 2011.

girls names - dead to me
yuck - yuck veronica falls - veronica falls cristal stilts - in love with oblivion + radiant door ep dirty beaches - badlands the fall - ersatz gb las kellies - las kellies pj harvey - let england shake real estate - days the pains of being pure at heart - belong seapony - go with me grooms - prom telekenesis - 12 desperate straight lines twerps - twerps john maus - we must become the pitiless censors of ourselves iceage - new brigade creepoid - horse heaven smith westerns - die it blonde papercuts - fading parade las robertas - cry out loud xray eyeballs - not nothing title tracks - in blank wavves - life sux ep pete and the pirates - one thousand pictures

P.S. tinham ficado esquecidos por desorganização: minks - by the edge soft moon - total decay ep male bonding - endless now nils frahm - felt

There are two people here, and I want you to kill them.

ersatz gb à parte, saiba-se ainda que:

- os real estate têm em days, o seu segundo album, um outro momento mágico que os catapulta para o topo das preferências musicais do ano. com uma guitarrinha que parece vinda da 2ª divisão o enlevo cresce a cada momento e coloca-os no patamar da pop superior dos nada surf, de quem, insuspeitamente, herdam harmonias vocais. o cocktail é um cogumelo.

- as veronica falls, agora oficialmente estreadas em formato longo, mesmo que quase esmagadas por criticas de desapontamento, abrem um caminho que cruza as guitarras dos pixies e a intensidade dramática das breeders com as guitarrinhas de algumas das melhores coisas nascidas sob o selo da sarah records. as musicas, mesmo que já conhecidas através de um punhado de singles todos não menos que essenciais, sucedem-se sem stop ou skip. repeat.

- dean wareham, britta phillips e um baterista de quem não sei o nome, fizeram o melhor concerto de sempre desde 25 de maio de 2010. simplesmente magnificos, tocaram algumas das melhores canções que fizeram dos galaxie 500 uma das mais essencias bandas de sempre.

- albini, weston e trainer voltam ao porto em 2012, primavera sound. é um re-25-de-maio.

- entretanto há dois discos a aquecer o corpo e a deslumbrar a mente: no future dos wax idols e everything you always wanted to know about sea lions but were afraid to ask dos sea lions

take off!

ao invés de outras bandas que surgiram no mesmo período punk/pos-punk - que se extinguiram sem mais reaparecer, ou que se reformaram anos depois, normalmente sem resultados de interesse - os fall, isto é, mark e. smith, seguiram um percurso, em que sempre enfrentaram o desafio de fazer algo novo, inteligente, diferente. uma brevíssima e interessante introdução ao percurso dos fall foi feita há dias por sasha frere-jones no new yorker. leiam, s.f.f.

ersatz gb, o 29º album e 3º com o actual line-up, prova mais uma vez que no meio da instabilidade que sempre caracterizou a formação dos fall, os melhores resultados aparecem quando à volta de mark e. smith há uma banda estável; e que a estabilidade emocional que o matrimónio lhe parece proporcionar é fundamental.

ersatz gb é um veiculo para que as observações sulfurosas acerca do quotidiano e da realidade que o rodeia; menos literatura, mais televisão, mais casa, mais pormenores na vida de um adulto que se aproxima dos 60 anos.

o álbum abre com cosmos 7, secçção ritmica a 300 km/h, um tgv que sai da ponta da guitarra e se cruza com avisos electrónicos de excesso de velocidade e a voz de um maquinista que parece perguntar se esta merda toda é normal. taking off é uma revisita, uma ramificação de outras canções dos fall; a mesma electronica revista e actualizada, a mesma poesia do absurdo, os samplers de algo parecido com os dead can dance. nate é sangue a sair pela boca em golfadas crescentes sobre espirais de guitarras: nate, mate, state, mark, o tele-espectador cuspidor. mask search é rockabilly em nome próprio e vómito sobre... i'm so sick of snow patrol and where to find esso lubrificants...

em greenway mark tem, finalmente, a sua oportunidade como vocalista de uma banda heavy metal. happi song. o volume baixa para se ouvir mrs smith em toada nico. seria apenas uma especie de mouth cleaner entre degustações, mas os inacreditáveis coros de mark e as repetidas escutas para os decifrar, tornam-na num dos momentos de ersatz gb. ao qual se segue laptop dog, o single.

para o fim, talvez o melhor: em monocard regressa o tom épico da decadência, a versão é retro-futurista. i've see them come e age of chang abrem ainda mais hipóteses na mistura entre gravações live de baixa qualidade e a fidelidade do estudio, que os fall exploram desde i'm kurious orange.

erzatz gb (o titulo, só por si, é extraordinário) confirma os fall como melhor banda do universo não só por tudo o que fizeram até aqui, mas também por aquilo que são hoje. take off!

black saturday

enquanto dead to me continua incansavelmente a rodar, black saturday, o novo single dos girls names, parece querer abrir novas portas. o tapete vermelho, por favor!

bring me down, pull me down, melbourne

percebem-se uma série de boas influências a sair das guitarras e das vozes que ora soam arrastadas, ora soam frescas e idealistas. o sangue que corre nas veias dos twerps contém químicos de proveniências simultaneamente próximas e distantes: da nova zelandia, o som de dunedin, da flying nun, o lo-fi, o desleixo aparente dos clean; da califórnia, o paisley underground, os dream syndicate de days of wine and roses; de athens, georgia, o jangle; de brisbane, a veia pop, os go-betweens. twerps, o disco, revela-se nas audições consecutivas e desenrola-se devagar, em sucessivas e inesgotáveis descobertas.

indian summer

sometimes always, be true. eardrumsPop records. está esclarecido: o calor chega da indonésia.

mechanistic mutilator's dream

quase sem fôlego para respirar com tanto trabalho, prom, o novo dos grooms, sabe como uma massagem ao crânio; consta que o trio de brooklyn pretendeu criar uma mistela algures entre os broadcast e 154 dos wire, mas que o resultado final, dizem eles, é comparável a alguns dos melhores momentos dos smiths. sonic youth + polvo a tocar covers dos pains of being pure at heart, digo eu.

i'm sorry, we lied

coastal grooves, album-estreia dos blood orange, o novo projecto de dev hynes dos lightspeed champion e test icicles, é surf sobre rodas, é shadows sem chegar a the deerhunter, é oriente mas não japan nem china crisis, é levemente math e um pouco funk, é ligeiramente dançável, é suede do inicio sem tanta intensidade, é vagamente post-punk, nem que seja só pelo baixo. se calhar é por essas (excelentes) meias tintas que me apetece uma marguerita.

By Appointment To Her Majesty Queen Elizabeth II

By Appointment To Her Majesty Queen Elizabeth II / Scotch Whisky Distillers / Finest Scotch Whisky / V-A-T 69 / Mr. Sanderson / Distilled And Bottled In Edinbugh, Scotland / One Liter.

o melhor disco punk de 2011 foi maturado e fabricado por umas meninas argentinas, todas de apelido kelly, que dão continuidade ao som de uma serie de bandas do final dos anos setenta e inicio dos anos oitenta, algumas delas formadas também por meninas. o adn cheira-se logo ao primeiro acorde mas antes da pesquisa das histórias de todas essas meninas, a energia e o som simples que brota das vozes, guitarra, baixo e bateria das las kellies fazem o mais competente homem-estátua dançar, sem parar. é a mesma compulsão das primeiras vezes do london calling ou do smell of female, com menos originalidade, mas... nos dias que correm ainda alguém se preocupa com isso?

we must become the pitiless censors of ourselves

o espaço não é só o lá-em-cima; no espaço há caves, há matéria e anti-matéria, há caleidoscópios e a música de john maus. pegadas e sinais de trânsito para os horrors.

do whatever you want all the time

ao terceiro disco os ponytail cimentam o som; passam a flutuar algures entre a cacofonia amarrada ao solo dos deerhoof (sem start/stop) e a cacofonia espacial dos pram; na estratosfera parecem recolher particulas math e deixar a vida a duas dimensões. depois da sobrexposição aos descendentes da C86 e da consequente crise hepática em curso, do whatever you want all the time funciona como canja de galinha.

waiting for the grass to turn green

a terminal cluster of white flowers

milk maid, yucca. fat cat, 2011.

pop culture's addiction to its own field mice

parecem querer transformar o som particular da velha banda de robert wratten, em todo um sub-género pop. a recusa é impossível. pelo menos enquanto o sol durar.
seapony, go with me, sub pop, 2011.

glasgow's dark side

após o entusiamo inicial, que durou enquanto love the cup e the repulsion box fizeram efeito, veio a indiferença, talvez injusta, com this gift. apaguem-se as luzes, mirror mirror traz consigo algo que os sons & daughters há muito haviam prometido: a face to a phantom.

unfinished dreaming

viram a luz do dia entre 1985 e 1987 e, para além de uma colectânea saida em 1999, não voltaram a ser vistos e raramente se voltou a falar neles. vários motivos existem para nos enfiarmos na cápsula do tempo e voltar lá; sacred heart hotel e rain on the sea são as duas pérolas que asseguram que o sonho dos stars of heaven nunca morrerá.

For shame, doc. Hunting rabbits with an elephant gun.

não me parece o melhor cartão de visita para o album de 2011 dos thee oh sees; trata-se mesmo de um dos menos conseguidos momentos do disco. talvez a intenção seja fazer com que, após o primeiro mergulho em castlevania, os olhos saltem da orbita, o queixo bata no chão e um enorme pedregulho caia do cimo de um desfiladeiro para nos deixar o corpo espalmado como uma folha de papel. e que já sem força aceitemos que nos ponha nos lábios uma barra de dinamite em forma de charuto aceso.

uh oh, john dwyer volta a explodir-nos o crânio.

forget the ghost

alguém descobriu uma velha tape mono que grant hart e elvis costello gravaram à socapa há muitos anos atrás? não. in blanks é o segundo dos title tracks. john davies foi baterista dos q and not u; o segundo tiro é com banda. e certeiro.

dick laurent is dead

uma velha mala com dísticos alusivos a discos pop-sessenta, surf e rockabilly, herança de familia trazida de taiwan. logo à chegada ressuscita o fantasma de elvis; chama-o para a casa de lynch, para a estrada perdida. há uma teia intrigante, negra, misteriosa, que leva as rédeas do mundo e conduz a vida dos que lhe penduraram a alma no prego. numa outra dimensão, há uma sala em silêncio onde os cramps e os suicide olham para um velho televisor a preto-e-branco. um telefone não pára de tocar. hello. do outro lado alguém respira.

badlands. dirty beaches.

blinded to the future binds me to the past

60's garage rock + 80's jangle pop, ou, velvet underground + joy division + nuggets + C86 + flying nun. o segundo album dos crystal stilts também é genial.

infectous

gps: xray eyeballs, not nothing, lp 2011, kanine, s. francisco - mas gostam que se diga que são de brooklyn.

as meninas, alexis brown e carly rabalais, também fazem o pino nos golden triangle; o video also stars members of the pains of being pure at heart e girls at dawn.

- O.J. San Felipe, are you a Dwyer Reid?

divine intervention

faris badwan em projecto paralelo aos horrors, a meias com a cantora lírica e multi-instrumentista rachel zeffira. cat's eyes alarga o conceito da banda de origem: numa das várias vidas do disco, a dor romântica tem o peso e a solenidade de uma catedral. noutra há girl-pop anos 60, carregado de sombras e lascívia disfarçada de ingenuidade; noutra ainda, os fantasmas de algumas das personagens de nick cave, regressam do passado e entretêm-se a assombrar. as cores, essas, são sempre as de um filme de roger corman.

numa vida extra, bónus-especial, faris mostra talentos no sarrabisco e materializa sonhos húmidos com uma polaroid.

bury me

album estreia dead to me a 26 de abril.

girls names.

What a pleasure

video não oficial, mas que capta bem o espírito do ep 2011, what a pleasure. beach fossils

electricity in our homes

dark secrets look for light

para os mais distraidos, como eu, mais que a supresa de uma noite em que as atracções eram, justamente, laetitia sadier ou, curiosamente, os spokes, urge dizer-se que a distracção ultrapassa os limites quando não se repara na musica dos piano magic. uma hora e pouco, 15 anos condensados naquele que é, até ao momento, o meu concerto do ano. liderado por um pequeno gnomo, simpático e mordaz como nenhum outro gnomo, o quarteto debita consecutivos momentos de magia, numa mistura negra que tanto remete para os this mortal coil, como para os death in june, os cure ou os joy division. se essa breve introdução / pequeno resumo de percurso, foi apenas para um reduzido punhado de sortudos, a todos os distraidos se lança o desafio de deitar a primeira mão a ovations, último de originais, que pode funcionar como porta de entrada para as pérolas esquecidas disaffected, the troubled sleep of piano magic e low birth weight. acerca deste, no allmusic escreveu-se:
Glen Johnson is probably the most important figure to emerge from the British indie music scene since My Bloody Valentine's Kevin Shields. His gift for haunting lyricism, arrangement, and production is unparalleled in any area of music today.

our van broke down so we had to leave it. its probably still there.

iceage-new brigade.denmark-lp 01.-

dais records.

fucking sonic wonderland

mr. dream, trash hit. brooklyn, ny.

god mode.

sir yes sir!

uns gajos de manchester que são amigos dos pete and the pirates e editam em cassete. sir yes sir, já tirei o pó ao deck!

sei que não apareço nos jornais

por vezes entre o fixe e o chunga há apenas uma linha fina que se pode quebrar com um sopro. por agora, gonçalo gonçalves está do lado romântico. o single, de capa vintage e vinil vermelho, é de colecção.

into black

blouse, colecção outono-inverno captured tracks, que para a primavera-verão 2011 anuncia zodiacs, supergrupo composto por grandes estrelas das pequenas constelações dum dum girls, woods, crystal stilts e blank dogs. por agora, derreto com into black.

hollow doubt

não tenho, por agora, qualquer intenção de voltar ao grunge - apesar de algo me dizer que um dia ele voltará ao mundo. e apesar disso, horse heaven é o disco que tem marcado as últimas semanas; pelos pulmões que se enchem até à explosão no ofegar cego das guitarras pesadas, e também pelo psych-folk-dream-pop-mazzy-star de dream out ou stranger; pelos fantasmas dos low que assombram hollow doubt e pela visita aos sonic youth em spirit birds.

notável pela leveza com que pisa o fio da navalha, quase sem lhe tocar; em horse heaven o grunge é aquilo que deve ser: quase só uma insinuação.

creepoid - horse heaven

magic, preservation, youth and movement

the great pan is dead, avanço para cherish the light years, segundo album de originais dos cold cave. data prevista de edição: 5 de abril de 2011 - um ansiolítico, por favor!

how beautiful I play sound

se 2010 revelou uma evolução sónica na direcção electrónica ao som dos blonde redhead, 2011 esmera-se para cedo desvendar a nova roupagem dos deerhoof. e se a forma, agora mais vincada nas curvas - menos cacofónica, mais limpida - é ainda mais sexy, o conteúdo continua tão intenso como todas as pisadas do percurso.

deerhoof vs. devil é para juntar aos minks e aos wire neste explosivo início de janeiro.

tap your toes on a tuesday

outra pérola que a rede 2010 apanhou, mas que o lixo, as algas e o peixe esconderam.

deleite obrigatório antes que o musgo a envolva ou que o regresso à água lhe devolva um brilho tardio.

air waves, dungeon dots.

dear betty baby

lower dens, batman, o novo single, a 18 de janeiro na gnomonsong de devendra banhart e andy cabic (vetiver). prolonga-se a magia.

on the high seas i'm the north wind, the lighthouse, the eclipse

ainda 2010 e um estranho caso de podium que andou perdido às voltas por este país e se desencontrou com os meus ouvidos. posso subir ao alto de uma montanha e pedir para que voltem?

lower dens - twin-hand movement

So apart from mixing that, there's not really much more to do with it, is there?

dois mil e dez, o ano em que os fall editaram your future our clutter; lugar comum: pensar-se, escrever-se, dizer-se "é o melhor album dos fall em muitos anos". avanço: yfoc é um dos melhores albuns dos fall. redimensionar o altar de the wonderful and frightening world, this nations saving grace, bend sinister e i'm kurious orange.

mark e. smith, bilis, personagens, panóptico, hilariante, genial. riffs curtos e directos, bateria potente e certeira e os geniais e absurdos efeitos de mr(s). smith. música = repetição + vertigem i.e. o regresso do vortex e da máquina de fazer música que são os fall. disco do ano, a léguas de qualquer outro. invencible.

abaixo do altar, um podium:

the fool das warpaint, frankie rose and the outs e (entrada nova) twin-hand movement, lower dens.

houve mais discos em 2010. as capas dos melhores e algumas das melhores capas, abaixo, post anterior.

Never mind Jackson
What about Saxon S
Recording of lost London
You don't deserve rock 'n' roll

vinte e três para dois mil e dez

breves notas sobre os discos no próximo post.