Londres, 2007.
Trafego. Cabs e autocarros vermelhos; ordas de turistas europeus. Milhões de imigrantes: orientais, indianos, muçulmanos, católicos, latinos, caribenhos.
Os putos orientais dão ares de estrelas punk com cortes de cabelo e indumentária Sex Pistols.
Vive-se depressa; come-se de pé. O Chá já não é chá, é Capuccino Starbucks bebido no metro, na rua, no escritório, nas lojas. Não há lojas de discos como havia há 10 anos; os cd’s e o vinil trocam-se nas lojas do Soho e Portobello, os sucessos do momento compram-se nas grandes cadeias. A Tower Records é uma Virgin Megastore. Não há punks em Picadilly Circus. Negros e indianos impingem jornais gratuitos ao final da tarde, mesmo antes de entrar para o metro. Tudo está cheio: os restaurantes estão cheios de gente, os teatros enchem-se e esvaziam-se depressa, nos museus há filas e pessoas que se amontoam só para dizerem que já viram o quadro do pintor, que estiveram lá.
No metro, avisos repetidos em tom grave, pedem para qualquer movimento suspeito ou objecto abandonado ser denunciado. Blade Runner. Há estações e linhas de metro encerradas, mas na teelvisão nada dizem – under Police investigation, é o motivo. Cheira a caril, a cous-cous, a falafel e teriaki, a café, a chocolate e à gordura dos hambúrgueres e pizzas americanos. Os parques, abandonados ao verde e aos corvos, parecem tristonhos, como se se tratassem agora do reflexo das nuvens cinzentas que continuam a pairar no ar. Teenagers falam das bandas sensação da semana de que escreve o NME e vestem-se como os Strokes ou como os Bravery.
Sábado à noite, Covent Garden: miúdas inglesas embebedam-se depressa e em grupo antes de engatarem um Joe Doe qualquer, não interessa etnia ou credo, ou beleza ou amor. Sexo e violência. E e crack são as drogas das ruas. Pubs e Clubs. O lixo amontoa-se à espera da manhã e dos serviços de limpeza que retiram também os mictórios portáteis.
É manhã. Portibello Road é um paraíso, uma ilha no meio de tanto buliço. Dirijo-me á Rough Trade e após dois dedos de conversa com o dono, peço o álbum de estreia do Jamie T – Panic Prevention. A chama da conversa reacende-se; saio 10 minutos depois e agora percebo que esta é a banda sonora de Londres, das ruas de Londres, do multiculturalismo de Londres, da pressa de Londres, das bebedeiras, dos gangs, dos subúrbios, do sexo. É o retrato do vazio que no retrato é cheio de pequenas-grandes histórias que desmentem o vazio. É a banda sonora da cidade que já não tem os Clash e já não conhece Billy Brag. Jamie T é um puto de 20 anos, mas não é um puto como os outros, é um génio, retratista slang que do subúrbio middle-class de Wimbledon faz a Polaroid da cidade em 2007.
Trafego. Cabs e autocarros vermelhos; ordas de turistas europeus. Milhões de imigrantes: orientais, indianos, muçulmanos, católicos, latinos, caribenhos.
Os putos orientais dão ares de estrelas punk com cortes de cabelo e indumentária Sex Pistols.
Vive-se depressa; come-se de pé. O Chá já não é chá, é Capuccino Starbucks bebido no metro, na rua, no escritório, nas lojas. Não há lojas de discos como havia há 10 anos; os cd’s e o vinil trocam-se nas lojas do Soho e Portobello, os sucessos do momento compram-se nas grandes cadeias. A Tower Records é uma Virgin Megastore. Não há punks em Picadilly Circus. Negros e indianos impingem jornais gratuitos ao final da tarde, mesmo antes de entrar para o metro. Tudo está cheio: os restaurantes estão cheios de gente, os teatros enchem-se e esvaziam-se depressa, nos museus há filas e pessoas que se amontoam só para dizerem que já viram o quadro do pintor, que estiveram lá.
No metro, avisos repetidos em tom grave, pedem para qualquer movimento suspeito ou objecto abandonado ser denunciado. Blade Runner. Há estações e linhas de metro encerradas, mas na teelvisão nada dizem – under Police investigation, é o motivo. Cheira a caril, a cous-cous, a falafel e teriaki, a café, a chocolate e à gordura dos hambúrgueres e pizzas americanos. Os parques, abandonados ao verde e aos corvos, parecem tristonhos, como se se tratassem agora do reflexo das nuvens cinzentas que continuam a pairar no ar. Teenagers falam das bandas sensação da semana de que escreve o NME e vestem-se como os Strokes ou como os Bravery.
Sábado à noite, Covent Garden: miúdas inglesas embebedam-se depressa e em grupo antes de engatarem um Joe Doe qualquer, não interessa etnia ou credo, ou beleza ou amor. Sexo e violência. E e crack são as drogas das ruas. Pubs e Clubs. O lixo amontoa-se à espera da manhã e dos serviços de limpeza que retiram também os mictórios portáteis.
É manhã. Portibello Road é um paraíso, uma ilha no meio de tanto buliço. Dirijo-me á Rough Trade e após dois dedos de conversa com o dono, peço o álbum de estreia do Jamie T – Panic Prevention. A chama da conversa reacende-se; saio 10 minutos depois e agora percebo que esta é a banda sonora de Londres, das ruas de Londres, do multiculturalismo de Londres, da pressa de Londres, das bebedeiras, dos gangs, dos subúrbios, do sexo. É o retrato do vazio que no retrato é cheio de pequenas-grandes histórias que desmentem o vazio. É a banda sonora da cidade que já não tem os Clash e já não conhece Billy Brag. Jamie T é um puto de 20 anos, mas não é um puto como os outros, é um génio, retratista slang que do subúrbio middle-class de Wimbledon faz a Polaroid da cidade em 2007.
No Drowned in Sound, Kev Kharas dá-lhe 10 em 10. E tem razão.
Sheila goes out with her mate stella, it gets poured all over her fella, cos shes says, man he aint no better than the next man kicking up fuss drunk, she stumbles down by a riverscreams calling london, none of us heard her coming, i guess the carpet weren't rolled out (...)
18 comentários:
impossivel nao ficar com agua na boca...
ja rodam por aqui, e vou ouvir com atencao.
cheers :)
a histeria pós-atentados terroristas enerva-me sobremaneira.
continuam a rodar...
Filipa, espero que a rodar e a agradar! eu não consigo tirar o disco do leitor de cd e da cabeça!
Edu, neste caso não é histeria, estou convencido que se não fossem as apertadissimas medidas de segurança no metro de londres outros atentados já teriam acontecido... mas que o cenário é de ficção cientifica, lá isso é...
Nunca ouvi esse Jamie T nem estou muito curioso mas o teu texto sobre Londres...que saudades....
Não imagino um retrato mais fiel e inspirado ;)
Beijinhos
a rodar e a agradar de facto!
muito viciante...
o disco é de uma jovialidade e frescura contagiantes! :)
Norma, da proxima tiro uma foto com a Hillary Swank para a posteridade, garanto-te que ela é tal e qual nos filmes - que hora tu foste arranjar para te refrescares ;)
(Ainda) Não conheço este rapaz nem o seu álbum mas vou fazer por isso.. O texto está excelente texto, Pedro, foi-me impossível não citá-lo no post mais recente que fiz lá no Arte del Pop. Parabéns.
Mago,
Obrigado, a sério que o elogio me deixa babado, porque escreves muito melhor que eu. Já agora, o texto do post foi escrito em 10 minutos depois de uns dias em Londres e da consulta de algumas notas de viagem que tirei nesses dias. O Jamie T foi obviamente inspiração também, porque foi a banda sonora perfeita para esses dias e se o foi é porque gostei do que ouvi e nem me apeteceu ouvir mais nada porque achei que o disco tinha tudo a ver com o que vi e senti em Londres. Isto em termos de conteúdo. A forma é obviamente inspirada nalguns textos do Adolfo Luxúria Canibal (ainda por cima o tema é uma cidade - uma das que não está no Mutantes S.21), que é/são uma inspiração de longa data. Espero que, por melhor ou pior que vos soem as palavras, dêem a devida atenção ao disco do Jamie T e, se possível, que o ouçam na Londres de 2007, que é uma cidade fervilhante, tensa, viva, verdadeiramente cosmopolita. Sei que esta não é a única circunstância favorável ao aparecimento de novas bandas interessantes (o contrário pode ser verdadeiro – veja-se o caso de Manchester em 77/78, por exemplo), mas em Londres algo está a acontecer a este nível; e acerca disso falaremos em próximos posts!
Cheers,
tb já andei colado neste disco, muito bom mesmo...
Abraço
Pedro, devo ter algum problema com este disco, pq efectivamente não me seduz muito... :S
Abraço
eu gosto bastante, no entanto não há unanimidade (e isso é bom!) quanto à avaliação do disco. por exemplo o drowned in sound (aqui referido recentemente, e em que de certa forma revi a minha opinião quanto ao + recente album dos Fall) arrasa o disco por completo. Mas opiniões são opiniões e gostos são gostos, mau era se pensassemos todos o mesmo!
Cheers,
Ainda só ouvi um ou outro tema e fiquei muito bem impressionado.
Belo texto, já agora!
oh yeah oh yeah!
fixe fixe
ouvi uma ou duas vezes. actualmente, nao gosto assim muito de hip hop. antes ate nutria alguma simpatia pela vertente de producao musical, mas agora acho que vao todos para o inferno por ostensividade. e pecado. todos
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